Ética e Vergonha na Cara - Clóvis de Barros Filho e Mario Sergio Cortella
Nome do Livro: Ética e Vergonha na Cara
Autores(as): Clóvis de Barros Filho e Mario Sergio Cortella
Editora: Papirus Editora
Páginas: 112
“Mas qual seria o mérito da minha vitória, qual seria a honra do meu título se eu deixasse que ele perdesse?”. E continuou, então, dizendo a coisa mais bonita que eu li envolvendo a questão da ética do cotidiano: “Se eu ganhasse desse jeito, o que ia falar para a minha mãe?”. - pg. 09
O banquete, de Platão. No primeiro discurso, Fedro diz que, se existisse uma cidade de amantes, ela seria perfeita e indestrutível, porque não há nada mais vergonhoso do que uma pessoa fugir ou praticar uma atitude indigna diante de alguém que ela ama. Então, se houvesse mais afetos e mais preocupação, digamos, em não desonrar pessoas que nos querem bem, provavelmente teríamos relações melhores e uma sociedade melhor. - pg. 10
Evidente ganho de potência de agir. É o que Espinosa chama de alegria, passagem para um estado mais potente do próprio ser. E o mundo que encontrei foi um mundo alegrador. - pg. 11
O valor moral da minha conduta está atrelado ao que ela acarretar no mundo. Se ela produzir bons efeitos – ética da eficácia –, foi boa; se, entretanto, produzir maus efeitos, foi ruim. - pg. 13
Kant sugere algo especial. Ele diz que tudo o que não se puder contar como fez, não se deve fazer. Porque, se há razões para não poder contar, essas são as mesmas razões para não fazer. E não estou falando de sigilo, estou falando de vergonha. Pois existem coisas que não podem ser contadas porque pertencem ao terreno da privacidade, do sigilo. Mas há aquelas que não podemos contar porque nos envergonham, nos diminuem - pg. 14
Reconciliação com o real. Amor fati, amor pelas coisas como elas são. - pg. 15
A lógica do Eros de Platão, a lógica do desejo na falta, do buscar o que não se tem - pg. 16
Como vou preparar meu filho como alguém que tem uma conduta ética saudável para um mundo que é inclemente, que é um combate contínuo? Ele ficará despreparado”. A grande questão é: você deseja que seu filho construa com seus semelhantes um outro mundo ou que ele se adapte, isto é, que ele se conforme ao que já existe? - g. 25
Não há vida sem escolha, e não há escolha sem valor... A legislação usa o termo incapaz para quem não pode escolher, decidir e julgar por si mesmo... o que é mais interessante, não há como viver sem escolher. A escolha se impõe. Como dirá Sartre, “somos condenados a ser livres”. - pg. 28
Se abrirmos qualquer dicionário, verificaremos que escolher é identificar uma alternativa de maior valor – no caso da vida... Percebemos que sem uma referência não é possível atribuir valor... porque não se podem escolher valores se não se tem referência. - pg. 29
Confiança. Baita valor! Para Tomás de Aquino: certeza sobre coisas que não podemos demonstrar nem verificar... É preciso escolher. Não podemos nos contentar e dizer: “Existe uma grande complexidade e, portanto, não vou sair do meu lugar”. - pg. 30
Há pais e mães que querem formar filhos lançando mão da escolha de Adão (ao existir uma única mulher). A frase típica é: “Filho, você tem dois caminhos para escolher: o meu ou o errado. A decisão é sua”. E desse ponto de vista, desconstrói a capacidade de autonomia. - pg. 31
O monoteísmo judaico trouxe uma das coisas mais fortes da história do ponto de vista ético. A divindade judaica, Javé, não tem predicado. Ele é puro sujeito e verbo. Quando perguntado: “Quem é você?”, ele diz: “Eu sou o que sou”. Porque toda vez que se indica um predicado, exclui-se automaticamente todo o restante. “Eu sou professor” significa “eu não sou todo o restante”; “O divino, para os estoicos, é a própria maravilha da ordem cósmica. O fato de o olho permitir ver adequadamente – e eles sabiam que não foi o homem que fez o olho –, leva-os a concluir: “Caramba, o olho é uma maravilha. Não foi o homem que o fez, existe alguma coisa de divino nessa história”. É um divino imanente à ordem cósmica, mas que transcende o homem. - pg. 33
Seguindo o ditado muçulmano: “Confie em Alá, mas amarre bem seus camelos” - g. 43
A ocasião faz o ladrão só quando há uma decisão por ser ladrão; não é a ocasião, mas o possível ladrão que decide. Portanto, a decisão continua a ser determinada pelo indivíduo e não pela circunstância - pg. 44
O pai ou a mãe, ou aqueles que criam uma criança – sejam dois pais ou duas mães –, precisam, acima de tudo, ser capazes da natureza exemplar. De nada adianta falar contrariamente à corrupção na vida estatal, mas no cotidiano contradizer essa conduta dentro da família... há a exemplaridade em relação àquilo que se deve fazer – nesse quesito, a escola tem limites, porque o tempo durante o qual a criança fica exposta ao conjunto das situações escolares é muito menor do que aquele em que ela fica exposta ao conjunto das situações familiares. - pg. 49
Civilização aquilo que coloca regras de convivência que permitam que o indivíduo se manifeste e seja livre a ponto de ser autônomo (autonomia é fazer o que se deseja no âmbito do pacto de convivência), mas não a ponto de ser soberano (soberania é fazer o que se quer).- pg. 50
Quando uma pessoa me diz: “Eu não acredito que isso vá funcionar no Brasil”, posso lembrar-lhe um fato. Em 1994 surgiu no país a primeira legislação que regulamentava a obrigatoriedade do uso de cinto de segurança, como uma forma de impedir a corrupção do corpo mortal, isto é, num acidente o indivíduo não ser vitimado. Pois bem, em primeiro lugar, nos primeiros anos, as pessoas só usavam o cinto por causa do constrangimento da multa pecuniária. Aliás, houve gente na época que até comprou camisa do Vasco da Gama ou da Ponte Preta para simular uma faixa de modo que o agente de trânsito não pudesse perceber a ausência do cinto. Hoje, quase ninguém se lembra da multa quando vai colocar o cinto. Em segundo lugar, durante todo esse tempo, as pessoas foram se conscientizando. Até as próprias crianças, por influência da escola, foram ensinadas a chamar a atenção dos pais quanto ao uso do cinto. E ainda, em terceiro lugar, a indústria criou carros que não dão partida no motor se o motorista não estiver com o cinto. Temos, então, um conjunto de medidas de proteção à corrupção do corpo mortal. - pg. 51
Considerar o outro é levar em conta sua alegria e sua tristeza como consequência da nossa conduta. Aí poderemos deixar de agir de uma maneira que nos é preferentemente prazerosa em nome do não entristecimento do outro. - pg. 55
🌱 Ensinamentos Práticos para levar para a vida “Ética e Vergonha na Cara”
Aplicações reais para o dia a dia com base nas páginas lidas
1. A ética está nas pequenas ações.
A verdadeira vitória não é vencer a qualquer custo, mas manter a honra mesmo quando ninguém está vendo. → Pergunte-se sempre: “O que eu diria à minha mãe sobre essa atitude?”
2. O amor e o afeto são forças morais.
Amar alguém nos torna mais éticos, pois não queremos decepcionar quem amamos. → Pratique o respeito e o cuidado nas suas relações — isso melhora não só os laços, mas a sociedade.
3. Alegria é potência de vida.
Seguindo Espinosa, tudo o que aumenta sua energia e o faz agir de forma positiva é bom. → Busque ambientes, pessoas e escolhas que ampliem sua alegria e vitalidade.
4. O valor moral depende das consequências. Uma ação é boa se gera bons efeitos no mundo. → Pense antes de agir: isso melhora ou piora o ambiente à minha volta?
5. A transparência é bússola ética.
Evite contar algo que se autodeprecie diminuindo sua própria autoconfiança → Evite atitudes que te diminuam se fossem reveladas.
6. Aceite o real como ele é.
Amor fati — amar o destino, aceitar a vida como ela se apresenta. → Encare desafios com serenidade, sem desejar que tudo fosse diferente.
7. Desejo é o motor da busca.
Segundo Platão, desejar é buscar o que falta — e isso move o crescimento. → Transforme suas faltas em direção e propósito, não em frustração.
8. Educar é preparar para criar um mundo melhor, não apenas se adaptar ao atual.
→ Ensine e viva com o exemplo: não incentive a conformidade, mas a transformação.
9. Viver é escolher.
Não escolher já é uma escolha. A liberdade exige responsabilidade. → Assuma as consequências das suas decisões e não fuja delas.
10. Para escolher bem, é preciso ter referências.
→ Construa seus próprios valores — não viva apenas pelos dos outros.
11. Confiança é escolher acreditar.
Nem tudo pode ser provado; algumas coisas precisam ser confiadas. → Acredite em algo, aja com fé racional e coragem.
12. Não destrua a autonomia dos outros.
“Meu caminho ou o errado” é uma forma de controle, não de educação. → Deixe espaço para o outro pensar, decidir e crescer.
13. A divindade está na ordem e na maravilha do mundo. → Agradeça o que existe, reconheça a beleza natural das coisas.
14. Confie, mas também seja prudente. “Confie em Alá, mas amarre bem seus camelos.” → Tenha fé, mas aja com responsabilidade prática.
15. O caráter se revela nas escolhas, não nas circunstâncias. → Não culpe o contexto: escolha o certo mesmo quando ninguém exige.
16. O exemplo educa mais do que o discurso. → Seja coerente — pratique o que ensina.
17. A civilização é o equilíbrio entre liberdade e convivência. → Use sua liberdade sem ferir o outro; autonomia não é soberania.
18. Mudança social começa com hábito e consciência.
Como o uso do cinto de segurança: primeiro imposto, depois incorporado. → Insista no comportamento correto até que ele se torne natural.
19. Considerar o outro é um ato ético.
Pense na alegria e na tristeza que suas ações causam. → Às vezes vale abrir mão de um prazer pessoal para não ferir o outro.
Durante a leitura de pensadores tão renomados no campo da filosofia, percebi o quanto ainda é limitada a minha capacidade de associar palavras e significados diante de tantas reflexões e referências profundas apresentadas no livro. Foi uma experiência enriquecedora, que me tirou completamente da zona de conforto e despertou ainda mais a minha curiosidade.
Em vários momentos, precisei reler trechos para compreender melhor o que estava sendo dito — e, outras vezes, mesmo sem entender totalmente, decidi seguir adiante, confiando que o sentido se revelaria depois.
Gostei muito da obra, pois ela vai além da filosofia em si: reflete sobre o comportamento humano por meio de exemplos do cotidiano. Além disso, integra temas como história, religião, filosofia e política, tornando a leitura ainda mais rica, instigante e transformadora.
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